Papa ficou surpreso e triste com interpretações erradas sobre a família

25/01/2015 14:45

Arquidiocese de Brasília.

Dom Angelo Becciu, substituto da Secretaria de Estado do Vaticano, falou em entrevista ao jornal italiano Avvenire, e revelou que o Papa Francisco sentiu-se surpreso e triste diante das repercussões de sua declaração sobre a paternidade responsável durante a coletiva de imprensa no voo de Manila a Roma, após a visita às Filipinas.

O arcebispo Becciu, é um dos mais próximos colaboradores do Santo Padre, e estava presente no encontro com os jornalistas. Ele disse que Francisco sentiu-se surpreso ao ler os jornais do dia seguinte nos quais “as suas palavras, voluntariamente expressas com a linguagem de todos os dias, não tivessem sido plenamente contextualizadas”, pronunciou Becciu. E que o Papa ainda teria expresso sua tristeza “pela desorientação” causada especialmente às famílias numerosas.

“Ao ler as manchetes dos jornais, o Papa, com quem eu falei ontem, sorriu e ficou um pouco surpreso com o fato de que suas palavras – propositalmente simples – não tivessem sido completamente contextualizadas de acordo com um trecho claríssimo da Encíclica Humanae Vitae sobre a paternidade responsável”, declarou o bispo diante da interpretação dos jornais para as palavras do Papa que dominou as manchetes: “para ser bons católicos não é necessário fazer filhos como coelhos”.

Apesar da forma clara que o Papa abordou o assunto, dom Becciu esclarece:

“A frase do Papa deve ser interpretada no sentido de que o ato de procriação no homem não pode seguir a lógica do instinto animal, mas deve ser fruto de um ato responsável com raízes no amor e na doação recíproca de si mesmo. Infelizmente, com muita frequência, a cultura contemporânea tende a diminuir a autêntica beleza e o valor do amor conjugal, com todas as consequências negativas que disso derivam”.

Em seguida, dom Becciu apresenta uma interpretação correta sobre a paternidade responsável à luz da Humanae Vitae: “aquela que nasce do ensinamento do Beato Paulo VI e da tradição milenar da Igreja reiterada na Casti Connubii (encíclica publicada por Pio XI, em 1930). Ou seja: que, sem jamais dividir o caráter unitivo e procriativo do ato sexual, este deve se inserir sempre na lógica do amor na medida que a pessoa como um todo (física, moral e espiritual) abre-se ao mistério da doação de si mesma no vínculo do matrimônio.

Com relação ao número “ideal” de filhos por casal, o arcebispo ressaltou também que o Papa não teria expressado um conceito taxativo de “três filhos por casal”: 

“O número três refere-se unicamente à quantidade mínima indicada pela sociologia e demografia para assegurar a estabilidade da população. De nenhuma maneira o Papa quis indicar que representasse o número ‘justo’ de filhos para cada matrimônio. Cada casal cristão, à luz da graça, é chamado a discernir de acordo com uma série de parâmetros humanos e divinos aquele que seria o número de filhos que deve ter”, concluiu o arcebispo.

Sobre a desorientação provocada nas famílias numerosas à frente das versões fornecidas pelos jornais, dom Becciu falou que o Papa ficou “realmente triste” com a inexatidão. “Francisco não queria absolutamente renegar a beleza e o valor das famílias numerosas”, afirmou o substituto da Secretaria de Estado, lembrando que na Audiência Geral após o retorno da Viagem Apostólica, Francisco disse que “a vida é sempre um bem e que ter tantos filhos é um dom de Deus para o qual devemos agradecer”.

 

Diácono Valney

 

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